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"Parece leite, mas não é": como a crise "empobreceu" os lacticínios do Brasil Nos últimos meses Consumidores brasileiros mais interessados notaram mu

Revista IA N 53
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“Parece leite, mas não é”: como a crise “empobreceu” os lacticínios do Brasil

Nos últimos meses Consumidores brasileiros mais interessados notaram mudanças significantes no rapaz uma das marcas de leite condensado mais famosas e colocadas do país. Além dos produtos originais A embalagem é azul. As prateleiras dos supermercados também estão repletas de novas versões marrons.

Na parte inferior do rótulo você pode entender melhor a diferença entre as opções. Enquanto a caixa azul provê leite condensado clássico (integral ou desnatado), a caixa marron é uma “mistura de leite condensado de leite, soro de leite e amido”.

4 em cada 5 alimentos vendidos no mercado brasileiro contêm aditivos químicos
Como a data de validade pode adicionar desperdício de alimentos?

E esse não foi o único laticínio que introduziu uma nova fórmula nos últimos meses: segundo relatos de especialistas e dos próprios consumidores, aumentou o leque de opções que substituem parte do leite por outros ingredientes, como soro de leite e amido., gordura vegetal e aditivos químicos como conservantes e aromatizantes.

Por exemplo, algumas marcas substituíram o creme de leite por “Nata”. Queijo ralado fica “ingredientes alimentares de queijo ralado”. O doce de leite por sua vez foi substituído pelo “whey aromatizado com doce de leite”. Em alguns mercados, até o leite tradicional compete nas prateleiras com novas bebidas lácteas fermentadas.

“Do ponto de vista nutritiva, pode ser nocivo”, alerta Rafael Claro, professor da universidade Federal de Mina Gerais (UFMG).

A estratégia é substituir os alimentos naturais por ingredientes mais baratos e com menor densidade de nutrientes.”

“Em outras palavras, As pessoas compram produtos que parecem leite, mas não são”, concluiu.

Sejamos claros: a venda dessas opções é regulamentada por órgãos competentes como o Ministério da agricultura Pecuária e Abastecimento (GRÁFICO) e a agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e em princípio não viola nenhuma lei..

De acordo com especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, o grande problema é que a embalagem desses laticínios “alternativos” é muito parecida com a original, com elementos que remetem ao leite no rótulo – como vacas, pastagens, potes e líquidos brancos – e no mesmo são colocados nas prateleiras como os produtos tradicionais.

Além disso, novas opções nem sempre são muito mais baratas. Ou apenas alguns centavos diferente de antes.

O que está por trás do fenômeno?

Kennya Beatriz Siqueira, pesquisador da Embrapa Gado de Leite em Magistrado de Fora (MG), explica que os movimentos recentes do setor lácteo estão ligados à crise financeira, à inflação e à falta de matéria-prima no mercado.

“Nos últimos dois anos O custo de produção do leite aumentou 62 %”, calculou.

O especialista diz que toda a cadeia produtiva foi afetada pelo aumento dos preços os custos da ração forrageira para alimentação das vacas, da electricidade para operar as cercas e do combustível para o transporte desses alimentos aumentar significativamente.

“É por isso que muitos produtores se separaram de parte do rebanho e venderam as vacas menos produtivos para os matadouros.”

Isso, por sua vez, significa que menos leite vem das fazendas brasileiras.

“Para completar, o meio do ano é o período de entressafra de ordenha, porque os pastos não são bons devido ao clima seco e à temperatura fria”, acrescenta.

Uma combinação desses fatores fez do leite (e dos lacticínios em geral) o “vilão inflacionário” dos últimos meses.

De acordo com o Índice de preços ao comprador Amplo (IPCA), a estabilidade acumulada do leite é de 57 % ao ano.

Outros espetáculos também tiveram um crescimento significativo. Só em julho, o leite condensado adicionou 19 %, manteiga – 17 %, queijo – 16 %, requeijão – 14 %.

Hora do plano B

Com menos matérias-primas no mercado e preços cada vez mais altos, a estratégia do setor era substituir parte do leite que detinha nas formulações originais dos produtos lácteos.

Uma porção desse ingrediente foi então trocada por soro de leite, um composto que “sobrava” e anteriormente descartado durante a fabricação do queijo.

Para referência, a partir de 1 kg de queijo, obtém-se uma média de cerca de 8 litros de soro de leite.

Miram que este soro, embora forneça menos nutrientes, não é danosa à saúde e pode ser consumido.

“No entanto, o soro tem uma base sólida muito menor do que o leite. Essencialmente água, com menor teor de proteínas e carboidratos. E isso muda a composição do produto final para algo pior do ponto de vista nutricional ”, diz Claro.

Porém, a simples troca do leite pelo whey muitas vezes não é suficiente para manter o apelo sensorial desse alimento, afinal, o whey contém menos proteina e gordura do que o leite “integral”, como você pode ver na tabela a seguir.

Para tornar o produto “alternativo” mais parecido com o original, as empresas adicionam ingredientes adicionais ao leite condensado, requeijão e bebidas lácteas em geral que adicionam textura e sabor, como fécula, gordura vegetal e açucar.

“Estamos falando de compostos que reduzem o custo do alimento dado”, resume a nutricionista Carolina Grehs, cofundadora do Desrotulando, aplicativo que analisa e classifica os alimentos vendidos em supermercados de acordo com uma série de critérios relacionados à saúde.

Em alguns casos, a adição desses compostos não é suficiente, e as empresas devem adicionar outros compostos químicos, como emulsificantes, adoçantes e aromatizantes.

Por um lado, essa estratégia não faz nada de errado do ponto de vista legal e regulatório. “Esses alimentos não são exatamente novos e têm nomes e regras bem definidos na legislação”, diz Grehs.

“A indústria cumpre seu papel ao lançar produtos que atendem às necessidades da população , disse Siqueira.

As empresas estão enfrentando uma escassez de matéria-prima. Está tentando oferecer uma alternativa ao consumidor , disse o pesquisador da Embrapa Gadot de Lete.

Por outro lado, especialistas criticam a falta de clareza na comunicação de muitos desses novos produtos — muitas vezes, a embalagem é tão parecida com a original que o consumidor nem percebe que está comprando algo diferente do que esperava.

“Há momentos em que as bebidas lácteas são postas na mesma prateleira que o leite. E seu rótulo apresenta um copo de líqüido branco e outros gráficos que fazem referência ao leite real ”, observa Grehs.

“Vemos alguns desses novos produtos lácteos sendo vendidos a preços muito semelhantes ou até mais altos do que as versões anteriores.”.

 

Uma maneira de evitar armadilhas é ler cuidadosamente os rótulos dos laticínios.

A BBC News Brasil entrou em contato com a Associação Brasileira dos produtores de Leite (Abraleite) e a Associação Brasileira dos produtores de Leite (Viva Lácteos) para se posicionar sobre a disputa mas não responder até o momento da publicação da reportagem.

contactado, a Nestlé, responsável pela produção do Leite Moça, enviou nota a indicar que a versão actualizada do leite condensado é “um novo produto da gama Moça que contém os mesmos ingredientes do rapaz tradicional, mas em quantidades diferentes, com adição de soro de leite, leite e amido”.

“É um produto de alta qualidade, sem gorduras vegetais, estabilizantes ou espessantes, e é uma opção no portfólio da marca para consumidores que buscam soluções com menor custo, sem abrir mão da qualidade e dos resultados Nestlé”, conclui o texto .

Distúrbios nutricionais e culinários

Além de uma possível confusão na hora da compra, o consumo continuado desses produtos preocupa os especialistas.

“Substituir o leite por outros ingredientes significa que o produto terá menos proteínas e vitaminas, o que representa uma perda nutricional”, analisa a nutricionista Laís Amaral, gerente técnico do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do instituto Brasileiro de Defesa do consumidor (Idec).

Outro aspecto que chama a atenção para alguns desses produtos é a adição de açucar nas preparações.

“É importante consumir lactose, o açúcar natural encontrado no leite. Outro elemento muito diferente é o açucar adicionado de outras fontes, como o xarope de glicose ”, compara Grehs.

“Isso nos preocupa, pois o leite é parte central da dieta de muitos brasileiros e estamos vendo níveis crescentes de obesidade em nossa população, que está relacionada ao consumo excessivo de alimentos ricos em calorias e açúcar.”

Segundo a Embrapa, cada brasileiro consome em média 166 litros de leite por ano, índice que vem aumentando exponencialmente desde a década de 1990.

Além da menor qualidade nutritiva de alguns desses produtos lácteos “alternativos”, deve-se atentar também para a adição de compostos que terminam em “ante”, como corantes, emulsificantes, adoçantes…

“ingredientes que barateiam a produção tornam o alimento minimamente comestível e alteraram fundamentalmente o aspecto sensorial do produto , explica Amaral. Isso significa que muitos desses novos produtos lácteos se enquadram na categoria de ultraprocessados.

Na lista de ingredientes de uma mistura de queijo ralado, por exemplo, é provável que entendemos que contém fécula de milho e/ou fécula de mandioca, ricota em pó, queijos ralados, soro de leite em pó, creme, ácido cítrico, antioxidante lecitina, conservantes sorbato de potássio e ácido sórbico, aroma idêntico ao parmesão natural e coloração amarelo crepuscular artificial.

No queijo ralado tradicional, essa tabela costuma ser menos gordurosa: o produto geralmente é feito de queijo ralado (leite pasteurizado, fermento, sal, coalho bovino) e um conservante de ácido sórbico.

De acordo com o Guia Alimentar para a população Brasileira, publicado pelo Ministério da saúde em 2014, o consumo de alimentos ultraprocessados, que contêm muitos desses ingredientes com nomes complicados e não são facilmente encontrados na despensa ou geladeira de nossas casas, deve ser evitado se possível.

Devido aos ingredientes desses alimentos Alimentos especialmente processados, como biscoitos recheados, salgadinhos embrulhados, refrigerantes e massas “deixadas” são nutricionalmente desequilibrados. Devido à sua composição e aparência, tendem a ser consumidos em excesso e substituem alimentos in natura ou minimamente processados. Os padrões de produção, distribuição, comercialização e consumo têm um impacto negativo na cultura na vida social e no meio ambiente.

A fabricação de alimentos ultraprocessados, normalmente realizada por grandes manufaturas, envolve várias etapas e técnicos de processamento e muitos ingredientes, incluindo sal, açúcar, óleos, gorduras e substâncias apenas para uso industrial”, contextualiza o guia.

O leite tornou-se um dos “O vilão da inflação”

Em 2022, o preço acumulado deste alimento aumentou 57 %.

fonte: IHPC

Além dos riscos nutricionais, Grehs chama a atenção para outro aspecto relevante do uso de alternativas lácteas: possíveis alterações na textura e sabor de pratos padrão e muito populares.

“Algumas misturas de leite causam problemas em receitas que dependem da gordura para formar a estrutura dessa mistura, como pudins e brigadeiros.”

Segundo o especialista, o uso de alguns dos novos produtos nas receitas altera o aspecto sensorial dessas sobremesas: o brigadeiro, por exemplo, pode não atingir o ponto ideal quando começa a se desprender do fundo da caçarola enquanto o pudim não., você obter aquela iguaria típica.

Mudar os lacticínios pode mudar o visual final de uma receita típica como o brigadeiro.

O que você vai fazer?

Rafael Claro, da UFMG, entende que a solução obvia é evitar comer esses alimentos ultraprocessados e comer produtos frescos sempre que possível.

Mas os especialistas entendem que esse é um debate que vai além da nutrição e inclui bem-estar e políticas públicas. Ainda mais em um cenário de crise econômica e inflação alta. “Nem todos podem comer ingredientes frescos e naturais porque tendem a ser caros.”

“Muitas pessoas não têm dinheiro para comprar leite integral ou meio litro de queijo. Então eles devem mudar para leite e outras alternativas. ”

“Mas fornecer junk food barato para os mais pobres da população não pode ser cabido como um caminho para o nosso futuro como nação”, protesta.

“Também temos que considerar que muitos desses produtos lácteos ultraprocessados não são necessários para a alimentação. Se não for uma opção para a segurança alimentar É aconselhável não incluí-lo nos comportamentos de consumo ”, concluiu.

A Embrapa Gado de Leites Siqueira entende que as perspectivas de inflação para os lácteos ficarão mais reguladas nos próximos meses.

“Aguardamos que as importações de matérias-primas e os custos de produção melhorar. Aguardamos que os preços caiam no segundo semestre deste ano ”, prevê.

Do ponto de vista prático, Grehs aconselha o consumidor a prestar atenção ao nome técnico de cada produto, que aparece em letras pequenas na frente do rótulo é aqui que você saberá se está procurando um creme pesado ou uma mistura de creme azedo, por exemplo.

“E mesmo dentro das misturas lácteas, é possível procurar opções melhores e mais saudáveis. Alguns contêm apenas soro de leite e amido, enquanto outros têm adição de açucar e aditivos químicos ”, aconselha.

Para verificar essas diferenças, vale a pena ler a lista de ingredientes no verso da embalagem. Se coisas como “xarope de glucose”, “açucar” ou “sebo” aparecem imediatamente, é uma boa ideia levantar o estandarte vermelha.

“Além disso, se a palavra ‘ condimentos ‘ estiver no rótulo os temperos foram adicionados para realçar o sabor. além de opções como ‘ bebida de leite em pó ‘ ou ‘ bebida de leite com morango ‘”, acrescenta The Nutritionist.

Por fim, caso o consumidor se sinta injustiçado e enganado na hora de comprar alguns desses compostos lácteos, é possível que os serviços de controle sejam acionados.

“Se você acredita que comprou carne suína no Poke, pode denunciar ao Procon, nosso site consumer.gov.br e ao Observatório de Propaganda de alimentos”, finaliza Amaral.

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